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Foto do escritorAguinaldo Carvalho

É preciso saber ter medo

Compreender o medo é a melhor maneira para enfrentá-lo

Hoje estamos mais assombrados do que no passado? Como adultos e crianças passam pelo medo? Por que recusamos um sentimento próprio da natureza humana? Como você vê o seu medo? E como você vê o medo do outro? Você acolhe, ou abafa este sentimento?

O medo é um sentimento preocupante que se apresenta diante do perigo ou ameaça, é a aflição perante uma percepção desagradável do fracasso.


O psicanalista e professor da USP, Christian Dunker diz que “o medo é um afeto, que envolve o modo como um estímulo nos afeta, e também o que ele evoca em nós em termos de resposta, ou seja, de emoção”. Segundo ele, é devido ao medo que entendemos que o amor é um modo de amparo, pois durante a vida somos incitados a passar pelo medo, e ir suprimindo-o por posições que geram a sensação de segurança. Devemos aprender a enfrentar o medo, pois isso é essencial para conseguirmos a mudança da nossa zona de conforto e ousarmos pelo mundo afora, em novas conquistas.


É importante observar as diferenças entre o jeito como a meninada e os adultos passam pelo medo. Enquanto as crianças declaram que estão aterrorizadas, pranteiam e estremecem, os adultos muitas vezes respondem ao medo com diferentes mecanismos. Um adulto apavorado pode fingir seu medo, disfarçá-lo com outros sentimentos como fúria ou tristeza, gritar e até virar um déspota opressor.


Para Freud, pai da Psicanálise, esconder o medo disfarçando-o e não analisando qual a causa do sentimento, pode arrastar a pessoa para diversos problemas psíquicos.


Christian esclarece que conforme vamos nos acomodando as diversas maneiras de passar medo, aprendemos a traduzi-lo em sinais, vocábulos e na oportuna ação de dividir com alguém que estamos temerosos. Assim, quando um adulto que percebe-se ameaçado ante a um medo a ponto de evitá-lo a todo custo, age de forma infantilizada. “Geralmente, o que acontece diante desse tipo de estratégia simplista é que a pessoa começa a ser assediada por medos internos, e o medo regride para a angústia. Portanto, é imprescindível desabafar para alguém os medos nossos de cada dia.


Quando o medo chega, o indivíduo mostra, através de sinais a presença do temor. As mãos suam, as pernas tremem, a fala fica entrecortada. Existem muitos indicativos corporais e emocionais do medo. Os adultos muitas vezes desejam ocultar, ou fingir a não vivência do medo, permitem que outras emoções tomem conta, muitas delas primitivas e danosas, como a agressividade e a cólera. Já a criança que tem medo solicita amparo, pede auxílio, que é ainda o caminho mais aconselhado, conforme a psicanálise, esta estratégia devemos copiar das crianças.


Em um mundo que privilegia a competência da ação, em detrimento da habilidade de sentir, é comum que os adultos se percebam encurralados em seus medos.


Para superar os limites que o medo pode impor em nossa consciência é preciso ultrapassar nossas competências e habilidades, através do desenvolvimento pessoal por meio do autoconhecimento. No momento em que evoluímos, é importante olhar atrás, num processo de reflexão, para perceber que a reconstrução daquilo que está desorganizado é essencial para uma vida sem ser refém ou escravo do medo.


O medo é algo definitivamente comum, instintivo e natural, que acontece em ocasiões características, surgindo através da percepção da necessidade de sentir segurança sempre. Ele, quando equilibrado tem uma consequência protetora que, é positiva, pois nos proporciona a viver evitando riscos. Em regra experimentamos o medo perante alguma coisa que ignoramos ou diante de fatos reais que são verdadeiramente perigosos.


Porém, para algumas pessoas, o medo pode tomar dimensões acima do necessário e surgir sem motivo visível, provocando uma espantosa alteração, desconforto e vulnerabilidade.

Em episódios mais severos, o medo pode aumentar a ponto de ser a raiz de um ataque de pânico que, quando frequente, caracteriza o Transtorno do Pânico, uma situação que afeta a existência da pessoa como um todo e demanda acompanhamento psicológico e psiquiátrico.


Compreender o medo é melhor do que meramente tentar eliminá-lo. Precisamos procurar perceber de onde ele vem, como e quando aparece, o que pode significar e até mesmo o que ele de fato é.


Aceitar que nossas vidas são permeadas por incertezas é fundamental para que possamos estar bem com a nossa saúde mental. O medo diante do novo, do não controlável, do desconhecido é uma das grandes dificuldades humanas. Não existe certezas ou garantias no cotidiano de ninguém.


Distinguir nossos receios e compreender que muitos deles vêm de dentro para fora, de nossas lembranças, de nossas narrativas, e que ativam o padrão do medo ao menor sinal de “ameaça” pode ajudar no seu enfrentamento. Quando estamos com medo, nossas possibilidades de escolha diminuem, mas ao reconhecê-lo nossas opções aumentam e podemos enfrentá-lo com a razão.


Procurar ajuda de um psicólogo para identificar os medos, perceber suas raízes, lidar com eles de forma segura e gradual, enfrentando-os sem se sentir ameaçado, quando não há, de fato, uma ameaça, é uma sábia decisão para aqueles que não conseguem enfrentar seus medos sozinhos.

Aguinaldo Adelino Carvalho

Psicólogo CRP 06/142740


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